Então vem a
certeza de que vivemos nesse vasto, complexo e impermanente mundo. As folhas
das árvores caem a cada inverno, as flores chegam a cada primavera. A chuva
chove de uma forma sempre nova, encharcando em poças nunca repetidas a planície
desgastada pelo tempo.
As pessoas
vêm, as pessoas vão. Nos damos conta de que, a rigor, todos nós já nascemos com
os dias contados; existimos nessa vida por um período limitado de tempo e
espaço. Mas ainda assim não há motivo para ficar triste: tivemos a oportunidade
de nascer nesse mundo e assim testemunhar toda complexidade, vastidão e
impermanência e tudo de positivo que há nele. Nascemos, também, condenados à
vida.
Constatamos o
real privilégio de viver o eterno presente que se apresenta no eterno retorno
do agora. Amar pessoas que vêm e vão dentro dele, desfrutar a natureza que se
apresenta, ouvir seus sons, tomar um banho de cachoeira, caminhar na montanha.
Também estão incluídas nesse pacote todas as dificuldades inerentes ao vasto,
complexo e impermanente: lidar com nossos sentimentos de medo, insegurança,
raiva, praticar aceitação e ser aceito pelos outros, digerir diferenças, ficar
preso no trânsito, atravessar dias atravessados na cidade. É assim. E
compreendemos que não há lugar pior ou melhor, diga-se de passagem, há apenas o
lugar em que estamos. Caminhar na montanha pode se tornar uma tremenda dor de
cabeça quando torcemos o tornozelo, e posso tranquilamente assistir ao pôr do
sol de dentro do ônibus lotado.
Dificuldades
e facilidades sempre serão encontradas no caminho, essa é uma das poucas
certezas. E também que não atalhos para nada, que tudo demanda certo grau de
esforço, assim como certo grau de relaxamento. Atividade e passividade, yin e
yang dançando; um passo vem depois do outro, mas o que há entre eles quando
perdemos o compasso?
Essa é a
regra, finalmente entendemos. O rio não pára de correr, e o tempo aumenta
sempre o grau de entropia de um sistema. Isso significa que, de fato, nascemos,
crescemos, envelhecemos e morremos. E o que fazemos no meio disso tudo é o que
conta, é o que realmente conta no fim das contas.
~ Gustavo
Mokusen ~
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